Escrevo este ensaio com a devida licença para os não-cristãos, mas também pedindo que o leiam.

Perdoar não significa trazer o inimigo novamente para dentro das nossas intimidades.

Amar igualmente, quem nos ama e quem nos odeia, não significa abrir espaço ou darmos a quem nos odeia os instrumentos que almeja possuir para nos destruir. Orar pelos inimigos (que, de um “aparente nada”, surgem em nossas estradas); vibrar positivamente pelos que nos decepcionam/decepcionaram profundamente, ou, até mesmo, prestar-lhes caridoso socorro (quando, por exemplo, em situações de infortúnio – material ou espiritual – ou de desgraça real) é, de nós e para nós cristãos, um dever moral. Abrir-se desprotegidos para eles, não. Abrir, mais uma ou algumas vezes, as portas para quem nos decepcionou ou para quem anela o nosso pior (explícita ou disfarçadamente) é conduta não só invigilante, como equivocada e quase insana do cristão.Afastarmo-nos, portanto, de tais pessoas (que, muitas vezes, para nos sentirmos culpados ou nos apiedarmos a vida toda delas, fazem-se de “coitadinhas”, frágeis ou indefesas, mas disto não têm NADA) é postura sábia, sensata, madura e extremamente necessária. Mais do que isto: é uma caridade urgente para conosco próprios ou uma ação de premente auto-estima.

O ano de 2013, para mim, foi o ano-modelo de aprendizagem definitiva para fazer, tranquilamente, doravante e sempre, o que o querido irmão Divaldo Franco me disse (conforme me recordo das suas sábias palavras), orientando-me e me confortando após eu lhe relatar episódios tristes com relação a duas pessoas espíritas em especial (das quais me afastei definitivamente): “Decepções com quem jamais imaginava se decepcionar, meu filho? Passou pelo pântano? Deixe-o lá atrás e erga a fronte. Não confunda as condutas destas pessoas com a Doutrina Espírita ou com o que ensina o Cristianismo. Siga adiante e confiante com Jesus, servindo aos mais necessitados com a consciência absolutamente tranquila.” Assim o fiz e, com as forças e a saúde plenamente redobradas, aprendi que o metafórico “dar o outro lado da fronte” nada tem a ver com correr riscos irresponsavelmente, “dormindo com o inimigo” ou lhe permitindo fazer parte da nossa intimidade.

O lar, por exemplo, é um dos nossos templos. De todos os materiais, sem dúvida, o mais íntimo e que nos toca diretamente: onde nossas energias se renovam; onde repousamos absolutamente entregues e confiantes; onde nos alimentamos, etc. Minha amiga-irmã Gorete Ribeiro sempre me repetiu isto. Deste modo, levar alguém (digo um espírito encarnado) para as “nossas casas”; entrar nas “casas” de pessoas que mal conhecemos (ou com relação às quais pressentimos não serem dignas da nossa plena confiança) exige cautela extremada. Em meus lares, tanto no material/familiar propriamente dito como nos que elegi imateriais/para mim sagrados, só entra quem os anos me comprovarem me amarem profunda e respeitosamente. Sem tal certeza, uma pessoa não pisa nos solos sagrados que Deus me emprestou para ser eu mesmo na atual encarnação. Faça o mesmo e verá quantas mudanças positivas incomensuráveis.

Encher a intimidade de pessoas que a existência ainda não apresentou por inteiro, como vejo alguns familiares e conhecidos meus ainda fazerem, é carência que ao abismo, cedo ou tarde, pode encaminhar. Com quem nos alimentamos? Com quem oramos? Com quem nos deitamos? Quem permitimos que nos toque? Quem autorizamos retirar ou acrescentar qualquer objeto da nossa mesa (de trabalho, por exemplo)? Reflitamos e entenderemos, deste tipo de perigo, uma de suas tristes profundezas. Não esqueçamos de que, muitas vezes, o algoz vem de longe, de mais longe do que conscientemente alcançamos; e, hoje, encontra-se disfarçado de “ovelha”, ou de quem, no fundo, só quer nos aprisionar – prender-nos a elas como se delas fôssemos “exclusivos (como se possível prender um ser de fé racional, sensato; um princípio inteligente que, um dia ou n’outro, necessariamente desperta). Daí, o aparente “cordeiro amoroso” pode nos empurrar para precipícios físicos ou morais; de dentro, por exemplo, da nossa própria família biológica, do nosso centro espírita, ambiente de trabalho ou da nossa igreja.

Esta não é uma proposta de reflexões para nos “armarmos”; nem para reforçarmos desequilibradamente “munições”; para nos fecharmos com relação às pessoas ou para nos enchermos de “amuletos, talismãs, rituais ou superstições”. Estas práticas ou “muletas aparentemente protetoras” são os escudos dos que não estão ancorados no porto inabalável do Cristo, ou seja, na segura paz do Deus Vivo. As palavras que aqui grafamos são para, antes, durante as existências e sempre, mantermos-nos vigilantes, orantes, e para cortarmos das nossas vidas, sem culpas e sem medos, quem sentimos nos fazerem mal ou quem nos trama ou deseja quedas, através dos mais variados sentimentos rasteiros; dentre esses, o sentimento capaz dos males mais impensáveis, de montas deletérias imensuráveis – como sempre me dizia outra amiga-irmã, Patrícia Lima: a inveja.Se alguém, que você nem conhecia antes, chega-lhe ou se aproxima, mais do que o sensato e com uma força emotiva exagerada, abra seus olhos e redobre a sua atenção. Se outrem lhe oferta o muito injustificável (que você nem pediu, de que nem está precisando e, mesmo se precisasse, a ele/ela não pediria por bom senso, dada a falta de intimidade), tal demanda que você acenda, à frente desta pessoa, o farol vermelho, deixando-lhe muito claro que, dali, ele/ela não tem autorização para passar. Se um “sorriso forçado” ou mãos físicas alheias lhe tocam, mesmo sem saber se você gosta ou permite tais “invasões” (que você sabe, no fundo e no mínimo, estranhas – para não aclarar tudo quanto a Espiritualidade ou Deus já lhe revelou), sinalize, respeitosamente, que já houve uma invasão de limites por você antes muito bem definidos em sua vida. Se tais seres lhe aclaram ou lhe confessam as mais mirabolantes intimidades ou buscam com você, de modo flagrantemente inconveniente, intimidades que não lhes deu, fique atento: uma luz-alerta se acendeu.

Lembrei-me agora que, há poucos dias, alguém de quem eu nunca tinha ouvido falar se aproximou de mim de modo assustadoramente inconveniente, conversando e me tocando, quase que me alisando (sem nenhum fundo libidinoso, mas com fundos outros obviamente captados pela minha sensibilidade mediúnica). No exato instante em que a “luz-alerta” se acendeu, a minha “rosa menina” do meu lado apareceu (a querida Ir. Luíza), asseverando-me: “Não há como fugir completamente destas situações, Enézio. Oremos, plasmando-lhe proteção e a luz do Cristo. Você sabe do imã que atrai quem a luz incandescente percebe ou incomoda. E daí e de outras vivências, as mais variadas motivações vêm e virão. Estabelece teus limites e prossegue vigilante, porque, muitas vezes, precisarás passar pelo que não te apraz, para lecionar a estas pessoas que somente o bem compensa; ou seja: que o mal é absoluta perda de tempo e pedras para novas futuras quedas delas.” Antes que eu não mais percebesse a Irmã presente, agradeci-lhe muito os mais variados socorros e amparos que diuturnamente me oferta, em nome Daquele que nos fortalece: Jesus.
Desejo, leitor(a), que as suas fronteiras, os seus auto-limites de proteção e as suas chaves de permissão (de você – cristão espírita, como eu, ou cristão de outra base doutrinária: católica, evangélica, etc), a quem sinceramente agradeço a leitura deste meu ensaio mediunicamente inspirado, sejam como as portas, janelas e até mesmo as mais ínfimas frestas da minha intimidade atualmente – em todos os sentidos possíveis e imagináveis (corpóreo, espiritual, simbólico, etc): devidamente protegidas, de modo que os/as invigilantes que me surjam (qual vampiros cegos quanto ao futuro que lhes aguarda, dada a opção pelo mal); que me toquem (até fisicamente, sem a devida permissão a mim e às minhas forças protetoras); que de graça me repulsem ou de mim não gostem; que me invejem; que me tramem o deletério, o pior (pensando que não percebo de imediato) ou que desequilibradamente me desejem qualquer mal (até mesmo fingindo extremada admiração, um “estranho amor repentino”, exagerado) logo se conscientizem da perda de tempo nas suas “tramas infelizes”; porque, antes, acima delas e além da minha própria aberta percepção, está o Deus que me protege e que a tudo, absolutamente a tudo, rege.
Obrigado, Senhor!

Enézio de Deus, médium e escritor baiano, natural de Retirolândia, é advogado, servidor público e professor. Mestre e doutorando em Direito das Famílias (UCSAL), é autor de ensaios, artigos científicos e livros nas áreas mediúnica, jurídica e literária.

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