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Evento aconteceu no auditório do Colégio Estadual José Leitão | Foto: Divulgação

Com a colaboração dos palestrantes Nelci Cruz e Justino Nunes, na tarde desta quarta-feira (16), o Colégio Estadual José Leitão, em Santaluz, culminou a segunda etapa do projeto pedagógico ‘Produzindo Literaturas’, com a Literatura de Cordel. O auditório da escola foi ocupado por alunos da primeira série dos turnos vespertino e noturno (público alvo do projeto), além de outros ouvintes, dentre eles, professores, alunos de outras séries, egressos e estudantes de ensino superior.

O público alvo teve a oportunidade de conhecer e de trabalhar com a Literatura de Cordel através de oficinas aplicadas pelo professor Hamilton, com a disciplina Literatura ede explanar as obrasdosescritores Nelci Cruz e Justino Nunes. O tema abordado nesta fase foi ‘Cordel + mulher = poesia em dose dupla. O professor Hamilton (aplicador do projeto) frisou que os estudos acerca da Literatura de Cordel objetivaram “Promover o reconhecimento acerca da função social do gênero cordel, bem como suas características básicas através de práticas de leitura, produção e análise linguística, identificando sua importância na cultura popular”. Como nas demais etapas, o professor Hamilton contou que foi auxiliado por 22 monitores protagonizados por alunos voluntários. Quanto às oficinas, em primeira instância foram realizados estudos acerca da origem, função social e características da Literatura de cordel.

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O idealizador do projeto, professor Hamilton, ao lado de professores convidados | Foto: Divulgação

Neste ínterim, os escritores Nelci Cruz e Justino Nunes foram aplaudidos de pé pelos ouvintes, tiveram o prazer de ver trechos de alguns dos seus livros serem expostos pelo alunado e, numa sabatina interativa, prestaram informativos valiosíssimos como o fato de Nelci, hoje, ter o seu trabalho assimilado ao do célebre escritor Patativa do Assaré, falecido em 2002, no estado do Ceará; de já ter sido incluído em diversos livros de autores brasileiros, como “Confidentes do Cangaço” (Amauri) “O Treme Terra” (Oleone), “Olhos de Santa Luzia” (Gutenberg), “Poeta Nordestino” (Osmar), de alguns poetas de cordel já trem escrito alguns livros em sua homenagem; de já ter respondido mais de 6.000 perguntas relacionadas aos assuntos supracitados, ficando considerado como uma memória de computador; de Nelci se fazer sempre presente nas festas culturais de Santaluz e de outras cidades que o convidam por admirarem seus trabalhos; além do fato inusitado de, em 1993, ter tido um encontro histórico com uma ex-cangaceira de Lampião, conhecida como Dadá (esposa do cangaceiro Corisco, com quem tirou fotos, entrevistou-a e bateram um bom e longo papo).

Já Justino Nunes, expôs sobre aspectos que contribuíram muito com o seu crescimento interpessoal, como o fato de, aos sete anos de idade, ter perdido a sua mãe em uma complicação que ocorreu durante o nascimento de uma criança; de, por ter sido penalizado pela condição social da época, não ter conseguido estudar na infância – pena que foi imposta também aos seus irmãos; de com doze anos ter ido trabalhar nas pedreiras juntamente com seu pai a fim de ajudar conseguir o sustento da família (mais um motivo para interromper a oportunidade de ser matriculado em uma escola); bem como de a vivência de pedreiras em pedreiras ter lhe mostrado que muitos dos seus sonhos se tornavam cada vez mais distantes, motivo que não lhe impediu de, entre seus familiares, amigos e conhecidos sempre ser visto como referência, por ser alguém que acredita na capacidade, inteligência e conhecimento como algo que devem estar sempre a serviços do bem estar das outras pessoas, pois essa foi a formação que recebeu na escola da vida, tendo seus pais como os verdadeiros professores; assim, inspirado nos versos que viu e ouviu deles (seus pais) quando criança, foi aos poucos descobrindo que a poesia é algo que alegra, apazigua, orienta, descontrai, incentiva a leitura, rejuvenesce as células cerebrais, desperta um sentimento de capacidade, refaz a história da pessoas e renova a esperança, visto que, foi exatamente motivado por esse sentimento que se tornou autor de dezenas de textos poéticos, entre eles, muitos que já transformou em livretos de literatura de cordel.

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O professor Hamilton (centro) e os palestrantes Justino Nunes (esquerda) e Nelci Cruz (direita)| Foto: Divulgação

“Eu acho que o projeto do professor Hamilton é de suma importância, porque na realidade, este projeto valoriza os artistas da terra, valoriza a cultura e faz com que o cidadão que conta causos, que conta histórias se sinta bem valorizado. De qualquer maneira, este projeto chamará a atenção de outros que queiram também contribuir para o crescimento da cultura. É o que realmente o professor Hamilton faz. Ele faz um trabalho que poucos fizeram até agora. Não é porque eu fui destacado no projeto não, é porque é importante mesmo, eu já venho observando. O projeto faz com que motive os grupos artísticos, quer seja o teatro, quer seja a literatura, quer seja o historiador, tudo que faz parte de uma cultura em si, aí todo mundo se sente realmente valorizado e gratificado pelo que o professor Hamilton realmente faz”, assinalou Nelci Cruz ao ser questionado sobre a importância do projeto pedagógico ‘Produzindo Literaturas’ para o processo educacional.

Sobre a relação da Literatura de Cordel com a valorização da mulher, Justino Nunes proferiu a seguinte fala: “Para falarmos da Literatura de Cordel em relação à valorização da mulher, primeiro devemos partir do pressuposto que nós vivemos numa sociedade que foi constituída pautada no patriarcado e, sendo assim, temos que entender a dificuldade que as mulheres sempre tiveram e muitas vezes ainda têm em tornar visíveis as suas atuações nos espaços sociais. Não que elas sejam menos importantes que o ser masculino. Dizendo isso, quero lembrar que muitas vezes os poetas quando se referem às mulheres em suas obras, retratam mais a questão da exploração do corpo e não da questão do potencial de luta. Por exemplo, para mim que escrevo Literatura de Cordel pautado em história real, procuro abordar a mulher nos seus vários espaços de lutas sociais, até porque, acredito que assim é que possa ser” e Justino, respondendo tudo em forma de cordel,concluiu a justificativa desta problemática com estes versos recheados de inspiração: “Visto que a mulher esteve/ sempre presente na nossa história/ nas lutas pelos direito/ proporcionando a vitória/ em todas elas tem brilho/ e em cada brilho tem glória/ entendo que é louvável/ sempre que a gente puder/ participar dos debates/ nos colocando de pé/ para poder promover/ justiça para este ser/empoderando a mulher”.

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Alunos/monitores da 2ª etapa do projeto pedagógico ‘Produzindo Literaturas | Foto: Divulgação

Ao final, os escritores luzenses, Nelci Cruz e Justino Nunes fizeram as considerações finais, falando da satisfação de estarem fazendo parte do projeto pedagógico ‘Produzindo Literaturas’, o qual classificaram como de suma importância para os alunos e para o escritor da terra; humildemente agradeceram ao alunado por terem se debruçado sobre as suas biografias e essencialmente, sobre as suas obras; além de parabenizarem ao alunado pela excelente postura acadêmica (de ouvintes) e ao professor Hamilton pela iniciativa e de agradecerem pela oportunidade de poderem, mais uma vez, ser representantes da Literatura de Cordel. Doravante, professor Hamilton deu o evento como encerrado e entre aplausos, Nelci e Justino partiram para a fase de cumprimentos e deram oportunidade para que os ouvintes tirassem as desejadas fotografias com eles.

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