Mais de 2,5 milhões de mulheres deixaram de trabalhar para cuidar de parentes ou das tarefas domésticas, diz IBGE
Por g1
Quase 7 milhões de mulheres entre 15 e 29 anos não estudavam e nem estavam ocupadas em 2022. Elas representam nada menos que 63,4% dos mais de 10,8 milhões de brasileiros da mesma faixa etária que estavam nesta situação no ano passado.
Os dados são da Síntese de Indicadores Sociais 2023, estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado nesta quarta-feira (6).
A pesquisa faz uma análise das condições de vida da população brasileira em 2023, incluindo mercado de trabalho, indicadores de rendimentos, condições de moradia e educação. Um dos cortes traça o perfil da população conhecida popularmente como “nem-nem” (nem estuda, nem trabalha).
O instituto, porém, prefere a sigla “Neno” para definir os jovens que “não estudam e nem estão ocupados”. E, apesar de uma queda de 14,3% em relação ao ano anterior, consequência de um reaquecimento do mercado de trabalho, o padrão demográfico dos Neno continua sem alteração. A ampla maioria é feminina, com 4,7 milhões de mulheres pretas ou pardas e 2,1 milhões de brancas.
E o principal motivo que as tirou do mercado de trabalho foi o cuidado. Mais de 2 milhões disseram que não buscaram trabalho porque precisavam cuidar dos afazeres domésticos ou tomar conta de parentes.
Outras 553 mil mulheres que procuravam emprego também mencionaram esses fatores como impeditivos. Ao todo, portanto, mais de 2,5 milhões de mulheres não trabalharam em 2022 para cuidar de parentes ou de tarefas domésticas.
A título de comparação, o contingente de homens que saíram do mercado pelo mesmo motivo e não procuravam emprego foi de 80 mil — número que não representa nem 4% do total de mulheres na mesma situação. O principal motivo alegado por eles foram os problemas de saúde, com 420 mil.
Entre aqueles que queriam trabalhar, apenas 17 mil mencionaram questões domésticas. A alegação mais recorrente, para 356 mil homens, é a de que não havia trabalho na localidade. Entre as mulheres, 484 mil mulheres disseram o mesmo.
Vale mencionar que essa diferenciação acontece porque os jovens Neno podem estar fora da força de trabalho ou desocupados. Já quem procura emprego é considerado desocupado pelo IBGE. Em 2022, 65,9% estavam fora da força de trabalho e 34,1% desocupados.
Por diferentes motivos — como estudo, falta de trabalho disponível ou cuidado — 4,7 milhões de jovens não procuraram trabalho e nem gostariam de trabalhar, segundo o instituto.
Veja os números de gênero e raça:
Entre os jovens de 15 a 29 anos do país, 10,8 milhões não estudavam nem estavam ocupados em 2022;
Um em cada cinco jovens brasileiros desta faixa etária (22,3%) faziam parte do grupo dos Neno;
– Do total, 6,9 milhões são mulheres e 3,9 milhões são homens;
– Também do total, 7,4 milhões são pretos ou pardos (67,6%) e 3,4 milhões são brancos (31,5%);
– No corte de raça, o maior grupo são as mulheres pretas ou pardas, com 4,7 milhões (43,3%);
– Já o menor grupo são os homens brancos, com 1,2 milhão (11,4%);
– Mulheres brancas são 2,1 milhões (20,1%) e homens pretos ou pardos, 2,6 milhões (24,3%).
Negros e mulheres têm rendimentos piores
A pesquisa do IBGE evidencia também dados clássicos da desigualdade no mercado de trabalho.
No quesito renda, por exemplo, os profissionais brancos continuam a ganhar 61,4% a mais por hora trabalhada que pretos e pardos. A métrica vale para todos os níveis de instrução, mas a média geral é de R$ 20 por hora para brancos e de R$ 12,40 para negros.
Além disso, a série histórica do IBGE mostra que essa distorção de raça pouco se mexeu ao longo dos últimos 10 anos. Em 2012, a média de rendimentos de brancos era 69,8% maior que de negros.
Dividido por instrução, a diferença mais relevante é no nível mais alto de instrução, o ensino superior. A diferença chega a 37,6%, sendo R$ 35,30 para brancos versus R$ 25,70 para pretos e pardos.
Veja abaixo as demais, sempre com rendimento de brancos sendo o maior:
– Total: R$ 20 x R$ 12,40;
– Sem instrução ou fundamental incompleto: R$ 10,90 x R$ 8,40;
– Fundamental completo: R$ 11,60 x R$ 9,30;
– Médio completo: R$ 14,10 x R$ 11,10;
– Superior completo: R$ 35,30 x R$ 25,70.
O IBGE mostra, por fim, que o país prossegue com forte diferenciação na distribuição de atividades de trabalho, que impactam nos salários. Enquanto brancos são maioria em setores como Informação e Serviços Financeiros, pretos e pardos são mais numerosos em atividades como serviços domésticos (66,4%), construção (65,1%) e agropecuária (62%).
No recorte por gênero, a média de rendimentos de homens é 14,9% maior que de mulheres. No ensino superior, a relação sobe para 43,2% — diferença ainda mais agressiva que o corte interracial. Além disso, o nível de ocupação dos homens alcançou 63,3% e o das mulheres, 46,3%.
Quanto à qualidade de emprego, os pretos e pardos ficam bem atrás dos brancos. As mulheres do grupo compõem o maior percentual de informalidade no mercado de trabalho, com 46,8% das profissionais. Os homens negros não ficam tão atrás, com 46,6%.
Em comparação, mulheres brancas na informalidade são 34,5%. Os homens brancos, novamente no menor contingente, são 33,3% informais.
Informais são empregados e trabalhadores domésticos sem carteira assinada, trabalhadores por conta própria e empregadores que não contribuem para a previdência social, além de trabalhadores familiares auxiliares. Em 2022, 40,9% dos trabalhadores do país estavam em ocupações informais.
Mas há também os dados de subutilização, que são pessoas desocupadas, subocupadas por insuficiência de horas ou na força de trabalho potencial — aqui se encaixam os Neno. E para a taxa composta de subutilização, os índices também mais elevados são para as mulheres e para as pessoas de cor ou raça preta ou parda.
A taxa de subutilização para homens era de 16,8%, enquanto chegava a 25,9% para as mulheres. Entre os brancos, eram 16,2%. Para negros, 24,6%.
Moto para embaixo de caminhão após colisão em Valente; mulher ficou ferida
Uma mulher de 31 anos ficou ferida após um acidente na manhã desta terça-feira (5), em Valente, na região sisaleira da Bahia. Segundo a Polícia Militar, a motocicleta Honda Biz que ela conduzia colidiu com um caminhão Ford F350, pertencente a uma empresa de produtos agropecuários, e foi parar embaixo do veículo. Não há informações do que causou a batida, que aconteceu em um cruzamento próximo ao centro cultural da cidade. A mulher foi socorrida e levada para o hospital municipal, com ferimentos pelo corpo. O estado de saúde dela é desconhecido. Conforme a PM, o condutor do caminhão, de 27 anos, foi encaminhado à delegacia juntamente com os veículos, e liberado depois de prestar esclarecimentos.
Notícias de Santaluz
Homem morre soterrado após cair em buraco de 4 metros em quintal de casa no interior da Bahia
Por g1 BA e TV Subaé
Um homem morreu soterrado após cair em um buraco de 4 metros, em um quintal de uma casa, nesta terça-feira (4), na cidade de Alagoinhas, a 120 km de Salvador.
De acordo com a Polícia Civil, a vítima, que não teve a identidade revelada, trabalhava em uma obra, quando parte do chão cedeu. Informações preliminares apontam que existia uma fossa no local, coberta por areia.
Uma equipe do Corpo de Bombeiros foi até a casa e atuou no resgate da vítima, que ainda respirava. No entanto, ela não resistiu e morreu antes de ter o corpo retirado do local.
Esquema vacinal incompleto aumenta risco de Covid longa; 3 em cada 4 pacientes relatam sintomas persistentes, como perda de olfato
Por g1
Não se imunizar com todas as doses da vacina contra a Covid-19 aumenta as chances de desenvolvimento da Covid longa. De acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), três em cada quatro pacientes infectados pelo coronavírus relataram sintomas persistentes da doença.
🚨 A pesquisa, divulgada nesta segunda-feira (4), aponta que aqueles que não se vacinaram apresentaram 23% mais chance de ter Covid longa se comparados às pessoas que se imunizaram com três ou quatro doses.
Entre os que tomaram até duas doses, a probabilidade de desenvolvimento de sintomas persistentes é 8% maior.
Consequências a longo prazo
Os pesquisadores acompanharam mil pacientes entre 2020 e 2023 para monitorar os efeitos da pandemia a longo prazo. Natan Feter, pesquisador da UFRGS e um dos autores do estudo, explica que os resultados alertam para as consequências da Covid-19.
“No início, se acreditava que os efeitos da pandemia seriam só indiretos, com o aumento nos casos de ansiedade, depressão e sedentarismo. Mas a pesquisa mostra os efeitos diretos na saúde”, diz o pesquisador.
👉A Covid longa é caracterizada pela permanência de sintomas da Covid-19 por três meses ou mais. Entre as queixas mais comuns estão: dores de cabeça, fadiga, perda de olfato e paladar, tosse, queda de cabelo e complicações neurológicas.
Covid longa é questão de saúde pública
Além das queixas relatadas pelos entrevistados, Feter também destaca que a alta prevalência dos sintomas a longo prazo acarreta a sobrecarga do Sistema Único de Saúde (SUS).
“A Covid longa se revelou um problema relevante para a saúde pública, tanto pela carga como pela prevalência dos sintomas”, afirma.
Para o pesquisador, essa condição persistente pode ser considerada como uma nova fase pós-pandemia. O estudo mostra que a condição crônica está associada à perda de produtividade e a maiores gastos do sistema público de saúde.
Baixo índice da vacinação bivalente
Apesar dos altos índices de vacinação da população no Brasil, com mais de 518 milhões de doses aplicadas contra a Covid-19, a cobertura da vacina bivalente é baixa.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, apenas 17% da população foi imunizada com a dose bivalente. A vacina serve como um reforço para a imunização realizada com as demais vacinas monovalentes.
❗Alerta: Com a baixa imunização das doses de reforço, alguns estados registram tendência de alta nos casos da doença.
Segundo o boletim mais recente da Fiocruz, Alagoas, Amazonas, Amapá, Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina devem observar aumento no número casos de Covid-19 nas próximas semanas.
Alunos brasileiros estão entre piores do mundo em ranking que avalia desempenho em matemática, ciências e leitura
Por g1
Entre 2018 e 2022, o Brasil apresentou um desempenho estável no Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), prova aplicada em 81 países para avaliar o desempenho de alunos de 15 anos em matemática, leitura e ciências. Os dados foram divulgados nesta terça-feira (5).
Apesar de não ter havido queda mesmo após todas as dificuldades impostas pela pandemia (como fechamento das escolas e desigualdade digital no ensino remoto), os índices são preocupantes: o país continuou na parte inferior da tabela, com notas muito abaixo das médias registradas pelos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
O Pisa é aplicado a cada 3 anos, mas a edição de 2021 foi adiada para 2022 por causa das restrições impostas na pandemia.
Em resumo:
➡️China, Japão, Coreia, Suíça, Estônia e Canadá destacaram-se nas três áreas de conhecimento e ocuparam o topo da tabela.
➡️Entre os 81 participantes, o Brasil subiu, de 2018 a 2022:
– 6 posições em matemática (de 71º para 65º), ficando próximo a nações como Jamaica, Argentina e Colômbia;
– 5 posições em leitura (de 57º para 52º), perto de Costa Rica, Peru, Colômbia e México;
– 2 posições em ciências (de 64º para 62º), empatando com Peru e Argentina.
➡️O impacto da pandemia foi maior entre países que registravam índices mais altos de desempenho nas três disciplinas.
➡️Em matemática, por exemplo, apenas 31 participantes conseguiram ao menos manter a mesma nota de 2018, como Austrália, Japão, Coreia do Sul e Suíça.
Pastor é preso suspeito de estuprar criança de 10 anos na Bahia
Por g1 BA e TV Oeste
Um pastor de 44 anos, que não teve a identidade revelada, suspeito de estuprar uma criança de 10 anos foi preso na segunda-feira (4), em Santa Maria da Vitória, no oeste da Bahia. As informações são da Polícia Civil da região. “Esse indivíduo, ele se diz pastor de uma igreja evangélica, e aparentemente ele usava do seu ofício para a prática dos abusos”, disse o delegado Leyvison Rodrigues, da 26ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin). O celular do suspeito foi apreendido e passará por perícia. O pastor está à disposição da Justiça na delegacia de Santa Maria da Vitória.
Cabeleireira morre afogada após escorregar de pedra e cair no Rio São Francisco
Por g1 BA e TV São Francisco
Uma cabeleireira de 27 anos morreu após se afogar no Rio São Francisco, na cidade de Curaçá, no norte da Bahia. Segundo informações de testemunhas, a vítima escorregou de uma pedra e caiu na água.
O acidente aconteceu durante o final de semana e a vítima foi identificada como Joselane Ribeiro de Oliveira. Ela nasceu em Curaçá, mas atualmente morava em Petrolina, cidade de Pernambuco que fica a 98,8 km.
De acordo com a Polícia Militar, os próprios barqueiros de Curaçá tentaram resgatar Joselane. Após o corpo dela ter sido retirado da água, uma técnica de enfermagem que estava no local fez os procedimentos de primeiros socorros e tentou reanimá-la, mas não conseguiu.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) também foi acionado, mas ao chegar no local, Joselane já estava sem vida.
O corpo da cabeleireira foi levado para o Instituto Médico Legal de Juazeiro, cidade que também fica no norte da Bahia.
Com 30 parcelas de financiamento para pagar, motorista lamenta queda de árvore em cima de carro: ‘não tem seguro’
Por g1 BA e TV Bahia
“Comprei o carro faz mais ou menos um mês e faltam 30 parcelas”, disse o proprietário de um veículo atingido por uma árvore, na manhã desta segunda-feira (4), no bairro Jardim Apipema, em Salvador. O carro ficou destruído com o impacto.
Em entrevista à TV Bahia, Jean Pedro disse que soube da queda da árvore por meio de um primo, que viu a notícia na televisão. Ele contou que estava no trabalho e foi até o local.
“Achei até que foi brincadeira, mas vim correndo. Quando cheguei, vi esse desastre. [O carro] não tem seguro e nem paguei direito. Paguei uma parcela ou duas”, disse.
Abalado com a situação, o homem relatou que este é o seu primeiro carro e que o veículo é usado para trabalhar. Disse ainda que não costumava estacionar no local e deixava no estacionamento de um supermercado, mas não encontrou vaga nesta segunda-feira.
“Uma conquista que acabei de adquirir e ver nesse estado aqui é complicado demais”, afirmou.
Sem desoneração prevista para combustíveis em 2024, diesel e gás de cozinha terão alta de imposto
Por g1
A equipe econômica não prevê impostos federais reduzidos sobre combustíveis em 2024. A informação consta na proposta de Orçamento do ano que vem e foi confirmada pela Secretaria da Receita Federal ao g1.
Alguns desses benefícios fiscais já acabaram, como no caso da gasolina, etanol e querosene de aviação. Mas as alíquotas ainda estão reduzidas, até o fim deste ano, para o diesel, biodiesel e para o gás de cozinha (GLP).
Com o fim da desoneração, esses produtos terão impostos elevados no começo de 2024 e, caso isso seja repassado, haverá aumento de preços aos consumidores — com impacto na inflação.
No caso do diesel, o reajuste tende a impactar de uma forma geral os preços da economia, pois o combustível é utilizado no transporte de cargas pelo país, assim como no transporte público.
O aumento da tributação do gás de cozinha, por sua vez, tende a afetar não somente a população de baixa renda, mas também a classe média e os preços cobrados pelos restaurantes.
A redução dos impostos federais foi autorizada no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2022. Com a guerra na Ucrânia, e em na iminência da corrida eleitoral, o governo anterior zerou o PIS/Cofins sobre diesel, gás de cozinha e sobre biodiesel até o fim de 2022. Depois reduziu impostos federais sobre gasolina e etanol também até o final do ano passado.
A gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve a tributação reduzida no começo deste ano. Entretanto, começou a elevar os impostos federais sobre a gasolina e etanol em fevereiro, retomando as alíquotas cheias sobre esses combustíveis em junho de 2023, além de querosene de aviação e GNV.
Já o aumento do diesel foi faseado ao longo do ano. Os impostos estiveram zerados até julho, quando aumentaram para R$ 0,11 por litro e para R$ 0,13 por litro em outubro. Contudo, a medida provisória que elevava os impostos perdeu a validade sem ser votada no Congresso, o que levou as alíquotas a zero novamente até 31 de dezembro.
Impacto nas contas públicas
O aumento de impostos sobre diesel, gás de cozinha e querosene de aviação a partir de janeiro acontece em meio a um esforço da equipe econômica para tentar zerar o rombo das contas públicas em 2024 – meta que consta na proposta de orçamento do ano que vem.
Para zerar o déficit fiscal, meta considerada difícil pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o objetivo do governo é de arrecadar R$ 168 bilhões a mais no próximo ano.
Mesmo com reservatórios das hidrelétricas cheios, conta de luz deve subir até 10,4% no próximo ano
Por O Globo
Mesmo com os reservatórios das hidrelétricas cheios, os consumidores pagarão mais nas contas de luz no próximo ano. A expectativa é de um aumento médio em todo o país de 6,58%, mas que pode chegar a 10,41%, a depender de discussões jurídicas sobre créditos de impostos que têm sido usados para atenuar os reajustes. É valor acima da inflação prevista para este ano, de 4,53%, e para 2024, de 3,91%. As previsões foram feitas pela Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace).
Os reajustes variam conforme a distribuidora que atende cada região e depende, entre outros fatores, do uso dos créditos. Em alguns estados, como Minas Gerais, eles já foram integralmente utilizados. Por isso, a projeção é que os mineiros tenham aumento de 15% pela Cemig em qualquer cenário.
‘Jabutis’ e penduricalhos
Na Enel, em São Paulo, a conta pode subir de 9% a 12%, a depender dessa decisão judicial. No Rio, os reajustes da Light podem oscilar de 1,34% a 7,61%. Os valores são decididos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). No caso da Light, o reajuste é em março.
“O sistema elétrico está disfuncional, com altas e quedas acentuadas”, avalia o presidente da Abrace, Paulo Pedrosa.
Os números chamam atenção porque os reservatórios das hidrelétricas atingiram o maior volume dos últimos 14 anos, desde 2009, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). No subsistema do Sudeste/Centro-Oeste, o principal do país, o percentual chegou a 64% no dia 30 de novembro. No subsistema Sul, está em 94%, enquanto no Nordeste, está em 53,89%, e no Norte, 48,88%.
Os reservatórios mais cheios deveriam resultar em energia mais barata em razão da menor necessidade de acionamento das termelétricas, que são fontes mais caras. O problema, dizem especialistas, é o crescimento dos chamados “encargos do sistema”, como a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), com subsídios que precisam ser rateados por todos os consumidores.
“O preço não vai cair, mesmo com a melhora do nível das hidrelétricas, porque continuam inserindo penduricalhos na conta de luz. O planejamento do setor está sendo feito pelo Congresso, e não mais pelo Executivo. E tudo é feito à mercê dos grupos de interesse”, afirmou Luiz Eduardo Barata, ex-diretor do ONS e presidente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia.
Um exemplo de como o Congresso tem interferido aconteceu na semana passada. A Câmara dos Deputados aprovou em regime de urgência um projeto de lei que regulamenta a geração de energia eólica em alto-mar (offshore). O problema é que o texto veio recheado de “jabutis”, ou seja, artigos de lei que pegaram carona no projeto e nada têm a ver com o tema principal da medida. O texto foi ao Senado Federal.
O texto aprovado em plenário foi apresentado pelo deputado Zé Vitor (PL-MG), relator do projeto, a poucos minutos da votação, depois de duas versões terem sido apresentadas em um único dia. Como havia a “urgência” aprovada, nada foi debatido pelas comissões e o texto acabou aprovado por 406 votos a 16.
Pelas contas da Abrace, somente esse PL vai aumentar os custos do sistema em R$ 39 bilhões, com incentivos de todo tipo: renovação de contratos para termelétricas a carvão no Sul do país, fim do preço-teto (limite) para geração de energia a gás em estados onde não há fornecimento do combustível, e reservas de mercado para usinas eólicas e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Esse aumento não começará a incidir em 2024, mas expõe como o setor elétrico continua contratando aumento de custos que impedem o seu melhor funcionamento.
A maior parte desses encargos fica dentro da CDE. Há subsídios para o carvão mineral, para a compra de óleo diesel em locais que não têm acesso ao Sistema Interligado Nacional (SIN), até incentivos para fontes renováveis e famílias de baixa renda. A conta tem aumentado. Segundo dados da Aneel, em 2017, foram R$ 15,99 bilhões direcionados a esse fundo. Este ano, o número já havia saltado para R$ 34,99 bilhões, e nos dois próximos anos pode saltar para R$ 37,16 bilhões e R$ 42,27 bilhões, segundo a Abrace. Tudo vai para a conta de luz.
A diferença nas projeções para os reajustes do ano que vem — de 6,58% a 10,41% — ocorre porque o Congresso aprovou, em 2022, uma lei complementar direcionando aos consumidores um crédito de R$ 60 bilhões, em função de cobrança que foi considerada indevida de ICMS na base de cálculo de PIS/Cofins, na chamada “tese do século”.
A Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia (Abradee) alega que esses recursos são das distribuidoras porque foram elas que pagaram os tributos e entraram com a ação, em 2002. Cerca de R$ 40 bilhões já foram utilizados por várias distribuidoras, o que ajudou na queda média de 8,3% nas contas de luz em 2023. Outros R$ 20 bilhões ainda podem ser direcionados aos consumidores nos próximos anos. A decisão, contudo, está pendente no Supremo Tribunal Federal (STF).
“A tese do século envolveu vários setores da economia, e apenas o setor elétrico teve tratamento diferente, com os recursos sendo direcionados aos consumidores de forma oportunística pelo Congresso, em 2022. A lei que foi aprovada retroagiu a 2019, e é isso que estamos questionando no STF”, afirmou Wagner Ferreira, diretor Jurídico e Institucional da Abradee.
‘Bagunça tarifária’
Na consultoria PSR, as estimativas são de aumento das tarifas acima da inflação entre 3% a 4% no ano que vem. O problema, diz Luiz Augusto Barroso, diretor-presidente da consultoria, é que as contas já estão altas, e os jabutis aprovados pelo Congresso na última semana pioram o ambiente tarifário para os próximos anos.
“A tarifa já está alta e cheia de custos indevidos. Manobras e jabutis aprovados pelo Congresso não só pioram o ambiente de investimentos, porque tiram a previsibilidade institucional, como o planejamento foi transferido para o Congresso. E acaba sendo feito de forma pouco criteriosa. Traz uma bagunça tarifária com mais sinais de aumentos mais para frente”, diz.
Barata destaca que a migração acelerada de consumidores para o “mercado livre” (no qual se escolhe de quem comprar a energia), na prática, vem diminuindo o número de pessoas aptas a custear os encargos do sistema:
“É como um condomínio. Com a migração para o mercado livre pelas grandes empresas, a autoprodução de energia e a geração distribuída, o chamado “mercado cativo”, o das distribuidoras (atendendo determinada região), vem diminuindo. Isso faz com que o reajuste médio seja mais alto.”
Ele estima que o setor elétrico tem custos em torno de R$ 343 bilhões por ano. Desse total, R$ 210 bilhões são de fato custo energético, enquanto R$ 58 bilhões são tributos, e R$ 55 bilhões, encargos. Já as perdas técnicas custam R$ 12 bilhões e os furtos de energia, R$ 7 bilhões.