Quadrilha é suspeita de usar organizações sociais para desviar mais de R$ 300 milhões em verbas públicas, incluindo dinheiro destinado a hospitais
Poder360
Uma quadrilha é suspeita de ter desviado mais de R$ 300 milhões de verba pública que deveria ter sido usada para combater a pandemia da covid-19. As informações foram divulgadas no domingo (22) pelo Fantástico, da TV Globo. A publicação teve acesso a investigação da Polícia Federal que pediu a prisão de 61 pessoas. De acordo com a investigação, o valor foi usado na compra de carros de luxo, aviões, cabeças de gado e fazendas.
A PF aponta Nicolas André Morais, um dos maiores pecuaristas do Pará, como o operador financeiro da quadrilha. Em uma ocasião, ele transportou R$ 6 milhões em dinheiro vivo, em um avião particular. A investigação mostra que ele chegou a ter 180 mil cabeças de gado. Ele é dono de fazendas, outros imóveis, carros de luxo e aeronaves.
Morais foi preso em setembro de 2020, acusado de ser o operador da quadrilha no Pará. Recebeu o benefício da prisão domiciliar. Na última quarta-feira (18 de agosto), voltou à prisão depois que a PF conseguiu novas provas contra ele. Ele foi um dos alvos da Operação SOS, que cumpriu 54 mandados de prisão temporária e 6 mandados de prisão preventiva.
“É uma quadrilha que vem atuando há bastante tempo. De 2019 para cá, [a quadrilha] encontrou no Estado do Pará a possibilidade de praticar esse tipo de crime”, declarou José Neto, delegado da Polícia Federal, ao Fantástico.
Segundo as investigações, o pecuarista tinha acesso ao alto escalão do governo do Pará. O pecuarista teria sido o responsável por indicar 4 Organizações Sociais (OS) que fecharam contratos de R$ 1,2 bilhão.
Essas organizações passaram a gerenciar 9 hospitais, sendo 4 deles de campanha, montados para ajudar no atendimento de pacientes com covid-19. Elas recebiam repasses do governo estadual e subcontratavam outras empresas para prestar os serviços nos hospitais –prática conhecida como “quarteirização”.
O valor para a prestação desses serviços era superfaturado e, em alguns casos, os trabalhos nem eram realizados. Equipamentos que deveriam ter sido entregues aos hospitais também nunca chegaram. Dessa forma, parte da verba pública ficava com a quadrilha. Para camuflar a operação, o grupo apresentava notas fiscais frias.
“Não são raros os diálogos [que mostram] que o desvio era superior a 50% daquilo que era repassado”, falou o delegado.
Em um dos diálogos obtidos pela PF, Morais diz que “vai precisar de R$ 5 milhões” e que, por isso, a OS deverá “tocar o hospital com R$ 3 milhões e pouco esse mês”.
“Eles estavam mais preocupados mesmo em desviar esses recursos da Saúde para compra de gado, de fazenda, de carro e aviões, do que efetivamente utilizar nos hospitais”, falou José Neto.
Ao Fantástico, a assessoria do governo do Pará afirmou que “o Estado rompeu com as organizações sociais (OS), que não mantém mais nenhum contrato com elas”. Declarou que “os órgãos públicos apoiam todas as investigações para que a verdade seja esclarecida”.
A defesa de Nicolas disse, em nota, que a medida de prisão preventiva expedida na semana passada é “excessiva e desnecessária”, considerando que ele já estava em prisão domiciliar há quase 1 ano.
“Sobre os fatos, a manifestação adequada será feita nos autos”, lê-se na nota.