Bolsonaro está deixando poder sem saber como vai ser líder da oposição, diz analista
Por g1
O jornalista e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Thomas Traumann afirmou em entrevista ao podcast “O Assunto” que o presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado na eleição por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), está deixando o poder sem saber como vai ser líder da oposição.
Bolsonaro voltou ao Palácio do Planalto na quarta-feira (23) depois de 19 dias de reclusão no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, e permaneceu por apenas 5 horas no local. A saída dele ocorreu um dia após o PL fazer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um novo pedido de invalidação de votos, sem apresentar provas de fraude.
Para Traumann, Bolsonaro não tinha estratégia para o caso de perder a eleição.
“Eu acho que essa estratégia foi sendo incutida nele pelos seus aliados, pelas pessoas que estão nas ruas, que estão forçando que ele se pronuncie. Eu acho que diz muito sobre o fato que o Bolsonaro está chegando perto de deixar o poder sem exatamente saber como ele vai ser o líder da oposição ao futuro governo Lula”, disse Traumann.
O jornalista afirmou que o presidente “não imaginava que podia perder a eleição”. “Uma parte significativa desse tempo que ele ficou dentro do Alvorada foi literalmente quase em estado de choque. Ele não tinha plano B. Não havia um plano do que fazer caso perdesse.”
Segundo Traumann, a medida do partido de contestar o resultado das urnas “é completamente fora de propósito”. “Lógico que o PL não tem a menor intenção, e muito menos o Valdemar Costa Neto [presidente do partido] imagina que essa contestação terá algum prosseguimento real”, disse. Para Traumann, a dúvida em relação às urnas não existiam no Brasil e foi uma ideia criada por Bolsonaro.
“A ação do PL [contra resultado da eleição] foi muito mais no sentido de dar uma resposta às pessoas para ter algo a se agarrar a partir de janeiro, quando Bolsonaro deixar o governo”, completou.
Traumann também apontou na entrevista que os atuais movimentos golpistas de apoiadores de Bolsonaro que estão bloqueando rodovias e se reunindo na porta de quartéis são, em grande parte, financiados por empresários bolsonaristas, e não completamente espontâneos.