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Por SP2

Matheus da Silva, no momento em que descobriu que passou no curso que queria, estatística, na Universidade de São Paulo | Foto: Reprodução

Sozinho em casa, pouco depois de acordar e cheio de ansiedade. Foi assim que Matheus da Silva, estudante de 18 anos de Santo André, na Grande São Paulo, descobriu que foi aprovado em uma vaga para o curso de graduação em estatística no campus Butantã da Universidade de São Paulo (USP), na manhã desta sexta-feira (26), via Provão Paulista.

Antes, ele havia ficado longe das notas mínimas exigidas para garantir a vaga pela Fuvest, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pelo processo Enem-USP, no qual a instituição seleciona estudante com base na pontuação do Exame Nacional do Ensino Médio.

“Eu fiz a Unesp, a Fuvest o Enem. A Unicamp eu não consegui fazer porque não tive dinheiro para pagar a inscrição”, lembra ele.

Mesmo com 880 pontos na prova de redação do Enem 2023, Matheus não conseguiu ficar dentro da nota de corte em estatística na sua modalidade do Enem-USP, pela cota de escola pública para pretos, pardos e indígenas.

Por isso, ele acabou optando no Enem-USP pelo curso de geologia, para o qual foi aprovado no resultado divulgado na última quarta (24). Mas, apesar da alegria de ter conseguido uma vaga na faculdade, o sonho dele, de seguir alguma carreira envolvendo matemática aplicada, agora sobrevivia apenas no resultado do Provão Paulista.

A escolha da carreira, segundo ele, ocorreu ainda no primeiro ano do ensino médio. “Eu estava pensando em ser engenheiro civil, mas não curti muito a área quando pesquisei. Aí vi que tenho um olhar mais analítico, então pensei: ‘matemática aplicada’.”

Todas as fichas no Provão

No novo vestibular da Secretaria Estadual da Educação (Seduc-SP), ele colocou ciências da computação na USP como primeira opção, estatística na USP como a segunda opção e engenharia da computação na Unesp como terceira opção. Escolheu, ainda, o curso tecnológico de sistemas embarcados, na Fatec de Santo André.

Na primeira vez que bateu o olho no seu boletim de desempenho, Matheus inclusive achou que não tinha passado. “Nossa, em estatística quase cheguei perto, fiquei na segunda colocação.”

Passados cerca de 20 segundos, ele chegou até o fim do boletim, onde estava escrito que ele fora convocado para matrícula em sua segunda opção: estatística.

Os olhos arregalaram, o sorriso resignado sumiu e ele levou as duas mãos à boca e se afastou do computador. “Não posso acreditar”, disse Matheus, que chegou perto para ler de novo a frase. “Convocado para matrícula na segunda opção, como ampla concorrência”, leu o estudante em voz alta, engatando com um grito pela mãe.

Na manhã de sexta, o jovem estava sozinho em casa. Sua mãe, diarista, e o pai, que trabalha como alterador de mercadoria em uma empresa, já haviam saído. A irmã mais nova também não estava por lá, e Matheus já começou a planejar os próximos passos.

Primeiro, ligar para todo mundo e avisar do sonho realizado. Depois, passar na Escola Estadual Educador Pedro Cia, a escola do Programa de Ensino Integral onde ele cursou o ensino médio e se formou em dezembro, para buscar os documentos de que precisa para fazer sua matrícula na USP na próxima segunda (29). Por fim, retirar na parede do quarto todos os materiais de estudo pré-vestibular que o acompanharam por tanto tempo.

Caminho até a aprovação

No ensino fundamental, Matheus estudou em outra escola de tempo integral, que era voltada à preparação para o vestibulinho das Etecs. Mas, na Hora H, ele acabou perdendo o prazo para se inscrever. No fim, acabou indo estudar na escola mais próxima, que também era em tempo integral.

“Eu ficava pensando que, se eu não conseguisse nem passar no vestibulinho, não iria conseguir passar em vestibular. Aí eu fiquei bem desanimado. E comecei a estudar bastante. Agora estou aqui.” (Matheus da Silva, aprovado na USP pelo Provão Paulista)

Sua estratégia de aprovação foi aproveitar as oportunidades que a escola oferecia, inclusive a frequência de simulados de redação, que, segundo ele, paralisam toda a escola para garantir a participação dos estudantes.

“Eu não estudei de forma tradicional, que é você estudar a teoria e depois aplicar aos exercícios”, explicou ele.

“Eu fazia os exercícios direto, pegava as questões que estavam erradas e estudava por elas, aí eu aumentava bastante os meus acertos.”

Aproximação entre escola e universidade

Em entrevista ao SP2, o professor Aluisio Segurado, pró-reitor de Graduação da USP, explicou que a universidade está contente com o resultado da primeira edição do Provão Paulista.

De acordo com ele, a ideia do novo vestibular é reagir à baixa participação de estudantes de escolas estaduais paulistas nos processos seletivos para o ensino superior. Segurado diz que um levantamento da USP mostrou que, na edição 2023 da Fuvest, apenas 8% dos estudantes da rede estadual participaram das provas. Já no Enem 2022, que deveria ser mais acessível, essa taxa foi de apenas 16%, a segunda pior participação entre todas as redes estaduais e distrital do país.

“O grande objetivo é dar mais oportunidades a jovens independentemente da sua origem familiar, da sua situação socioeconômica”, explicou Segurado. “E reconhecer os talentos, porque a prova é competitiva e o mérito é sempre imprescindível. Mas que os talentos sejam reconhecidos e que lhes seja dada a oportunidade que merecem para construir um projeto de vida que inclua a USP, a Unicamp e a Unesp como uma possibilidade.”

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