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André foi inocentado após quase dois anos | Foto: Reprodução/Instagram via g1

Felicidade e alívio. Esses são os sentimentos que tomam conta do auxiliar de farmácia André Arcanjo, de 42 anos, desde que foi inocentado no caso do latrocínio – roubo seguido de morte – que o fez ficar na cadeia por mais de seis meses. O crime ocorreu em julho de 2021 e teve como vítima o idoso Edvaldo Oliveira Carvalho, que era vizinho e amigo de André havia mais de 20 anos.

“Fui acusado sem prova alguma – e eu tinha estado lá, no assalto, com uma arma apontada para a minha cabeça. Foi doloroso demais, porque me senti mais uma vez discriminado. Acredito até pelo meu tom de pele, por ser negro. Agora tenho motivo de felicidade e gratidão a Deus pela força de todo o apoio que tive, de pessoas que acreditaram em mim”, disse Arcanjo em entrevista ao g1.

André ficou oito meses, entre 2021 e 2022, no Centro de Triagem e Observação Criminológica Professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife, após ser acusado de facilitar a entrada dos criminosos na casa do idoso, que foi assassinado a tiros, no bairro de Areias.

Na sexta (31), o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) declarou o réu inocente das acusações (leia mais sobre o processo abaixo).

Ao g1, André contou que no dia do crime estava descansando em casa, quando foi chamado para almoçar com Edvaldo, que morava perto.

“O preconceito está tão enraizado e estruturado inconscientemente que, se você vê um negro mal vestido, já deduz perigo. Essa é a imagem que se passa. Estava em casa, de bermuda, bem à vontade, cabelo assanhado [antes de ir à casa da vítima]. Quem olha para um negro assim, já olha desconfiado”, afirmou.

‘Prisão não é lugar de inocente’

Para André, o período que passou na prisão foi um momento de muita angústia e ansiedade.

“Ali não é um lugar para um inocente estar. Existem pessoas que estão pagando pelos seus erros, mas acredito que podia melhorar a forma como o governo e a Justiça tratam os presos [para que seja] de forma educacional, para incentivar o bem. Foi muito difícil. Minha família lutando por mim e o dia lá é interminável. O tempo na prisão é diferente do tempo fora dela. Você vive da ansiedade de que algo o tire daquele sufoco”, descreveu.

A casa de André fica no mesmo terreno onde vive a mãe, o irmão, a cunhada e o sobrinho dele, no bairro de Areias.

Segundo o auxiliar de farmácia, Edvaldo tinha uma lanchonete frequentada por toda a vizinhança e a amizade entre os dois começou quando André ajudava, ainda muito jovem, no estabelecimento do vizinho.

Nos últimos anos, a esposa do comerciante adoeceu e, por trabalhar na área de saúde, André também o ajudava a cuidar dela.

“[Os bandidos] Colocaram a gente numa sala e fiquei deitado no chão, com uma arma apontada pra cabeça, vivendo o terror sem poder fazer nada. Tiraram ele para outro quarto e, depois, só escutei os tiros. Achei que ia morrer também, mas eles fugiram. Você ver um amigo morrer e ser acusado daquilo é terrível”, disse.

‘Viver em paz e tranquilidade’

Depois das acusações, André passou por um processo administrativo no hospital onde trabalhava e acabou sendo demitido. Ao sair da cadeia, demorou quase um ano para conseguir o emprego onde está hoje.

“Voltei lá [ao antigo emprego], mas não tinha mais vaga. Então, tive que começar tudo de novo; pedindo força a Deus. Mas a gente não pode perder a fé. Graças a Deus, estou trabalhando já e vou lutando para viver em paz e tranquilidade e ver essa injustiça acabar”, afirmou.

Entenda o caso

– Detido como suspeito em outubro de 2021, André teve o habeas corpus negado pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), em janeiro de 2022.

– André ficou no Centro de Triagem e Observação Criminológica professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife.

– A defesa dele recorreu e levou o pedido de libertação ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que foi aceito. André, então, passou a responder fora do presídio desde junho do ano passado.

Ao todo, 13 testemunhas foram ouvidas durante o processo, de acordo com a defesa de André. “Nenhuma das testemunhas colocou ele como autor do fato, o que gerou ainda mais espanto na prisão”, disse o advogado Wanderson Albuquerque.

Ainda segundo a defesa, na primeira audiência, em 19 de abril de 2022, uma das testemunhas, o pedreiro que estava trabalhando na casa e que abriu a grade para André, negou a versão do inquérito policial de que André teria facilitado a entrada dos bandidos na casa onde aconteceu o crime.

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