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Por g1 Santos

Mulher foi baleada três vezes dentro da própria papelaria em Peruíbe (SP) | Foto: Arquivo Pessoal

Fernanda Marcelino, que foi baleada na cabeça, tórax e na mão em Peruíbe, no litoral de São Paulo, guardou as últimas palavras ditas pelo ex-marido antes de atirar nela. A vítima contou ao g1, nesta sexta-feira (8), que o homem ‘debochou’ da medida protetiva contra ele e disse que nada o impediria de ‘completar o serviço’. “Estou aqui para provar que isso não funciona”, lembrou.

O crime aconteceu dentro da papelaria de Fernanda, no bairro Jardim Peruíbe. A vítima contou ter sido pega ‘de surpresa’ pelo homem, que, segundo ela, não aceitava o término do relacionamento. Ela está internada no Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande, com o estado de saúde estável. A Polícia Civil investiga o caso e procura o autor.

“Entrou na loja e falou: ‘Estou aqui para fazer o serviço e provar para você que a medida protetiva não funciona, e que nem seu pai nem ninguém vai impedir o que vim fazer'”, lembrou Fernanda.

Diálogo antes dos tiros

A vítima relatou que, na data do ocorrido, o homem apareceu na papelaria sem avisar, desrespeitando a medida protetiva que o obrigava a manter distância dela. Durante a breve conversa antes de atirar, segundo ela, o suspeito a acusou de tê-lo humilhado por ‘estar feliz’ e por acionar as autoridades.

“Inventou coisas da cabeça dele sobre eu estar ‘vivendo uma vida muito feliz’ pela cidade. Disse que não admitia isso”, lembrou. “Disse que eu o estava humilhando pelo fato de pedir medida protetiva”.

Fernanda relatou ter terminado o relacionamento há aproximadamente um mês. Ela explicou também que, em outras tentativas de rompimento, acabou sendo ameaçada de morte pelo homem. “Desta vez, em vez de voltar para as manipulações dele, fui até a delegacia e pedi a medida protetiva”, ressaltou.

A mulher disse ao g1 que reconhece ter cometido um ‘erro’ durante o processo: não denunciar o ex-companheiro quando ele desrespeitou a medida protetiva. “Entrou em contato comigo [antes da data do crime] mesmo ciente de que não poderia. Eu fui ‘amiga’ e não denunciei. Se tivesse feito isso na primeira vez, ele poderia ter sido preso e nada disso teria acontecido”, complementou.

“As mulheres precisam, sim, falar e pedir socorro. Sair daquele discurso de que ‘não adianta’. Adianta sim! Temos que ser corajosas e lutar pelas nossas vidas”, alertou a vítima.

Medida protetiva

O g1 conversou com a delegada coordenadora das Delegacias de Defesa da Mulher (DDMs) do Estado de São Paulo, Jamila Jorge Ferrari, sobre violência contra as mulheres e medidas protetivas.

Segundo ela, é importante que as vítimas registrem boletins de ocorrência contra os autores no primeiro sinal de violência. “Muitas pessoas podem falar: ‘Ah, mas ele só te xingou’. Mas isso já é um crime, é uma violência moral”, exemplificou.

A delegada acrescentou que, a partir do momento em que um BO do tipo é registrado, o agressor passa a ser ‘monitorado’ pela polícia e também pelo Estado.

De acordo com Jamila, a medida protetiva pode ser solicitada em qualquer delegacia, constituindo um advogado ou diretamente no Ministério Público.

No caso do pedido feito por meio de uma delegacia, por exemplo, a Polícia Civil tem até 48 horas para encaminhar a solicitação ao Poder Judiciário, conforme explicado pela delegada. “A lei determina que seja rápido o encaminhamento e análise desse pedido”, complementou.

Segundo Jamila, o descumprimento da medida protetiva é crime. Em casos assim, o suspeito pode ser detido em dois tipos de situações: em flagrante, caso seja visto pelas autoridades durante o ato, ou na sequência, quando um delegado pode solicitar a prisão preventiva dele.

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