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Emiliano José é jornalista e escritor

É inegável que os governos do presidente Lula e da presidenta Dilma deram outra feição ao ensino público superior no País. Foram criadas 18 novas universidades federais, para além das centenas de institutos federais de ensino tecnológico. Na Bahia, até 2006 convivíamos com a realidade de uma única Universidade, a Universidade Federal da Bahia, de tantos serviços prestados ao nosso Estado. Esse quadro modificou-se de modo substancial. O Estado, em tão pouco tempo, passou de uma universidade para seis.

Temos agora, além da Universidade Federal da Bahia, a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), a Universidade do Vale do São Francisco (Univasf), a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), a Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) e a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab). Sabemos, no entanto, que isso é ainda insuficiente. O Estado continua a lutar para que se amplie a implantação de novas universidades. Há a possibilidade da implantação da Universidade do Sudoeste, facilitada pela presença de um campus da UFBA em Conquista, e a implantação da Universidade Federal do Nordeste da Bahia (UFNB).

A reivindicação pela criação da UFNB tem levado a população de todo o Nordeste da Bahia a uma impressionante mobilização. Milhares de pessoas de quatro territórios de identidade – Bacia do Jacuípe, Sisal, Semiárido Nordeste II e Agreste Litoral Norte –, envolvendo 74 municípios, abarcando uma população próxima dos 2 milhões de habitantes, têm levantado sua voz exigindo que surja a nova universidade.

Passeatas e audiências públicas lotadas realizaram-se nos municípios de Esplanada, Entre Rios, Alagoinhas, Conde, Catu, Ipirá, Riachão do Jacuípe, Baixa Grande, Quixabeira, Capim Grosso, Tucano, Teofilândia, Conceição do Coité, Valente, Santaluz, Itiúba, Barrocas, Araci, Cícero Dantas, Ribeira do Pombal, Fátima, Adustina, Heliópolis, Cipó, Nova Soure e Jeremoabo. As próximas audiências acontecerão em Aporá, Inhambupe e Paripiranga. O reitor Paulo Gabriel, da UFRB, que tem sido uma mola mestra na articulação e formulação sobre a nova Universidade, me garantiu ser esta a maior mobilização de toda a história do Brasil pela criação de uma nova universidade.

Na última semana, realizou-se a audiência pública do município de Araci, com ampla participação. Destaco aqui o papel de Irmã Cecília, ex-prefeita de Itiúba, uma das pioneiras da ideia, representante do Conselho de Desenvolvimento do Sisal, e ao nominá-la homenageio todas as muitas lideranças empenhadas na realização desse sonho. O Nordeste da Bahia é a única mesorregião do Nordeste brasileiro que não possui um campus de uma universidade federal. Talvez seja essa carência, que explique a intensidade da mobilização, a vibração que a envolve. O sonho de conquistar uma universidade federal mobiliza as multidões do Nordeste baiano.

A criação dessa universidade tem uma acentuada carga simbólica. Foi pelos caminhos íngremes do sertão nordestino baiano que o Conselheiro andou, pregando seu sonho de uma sociedade igualitária, erguendo uma Canudos solidária, esmagada sem dó nem piedade pelo Exército brasileiro, massacre eternizado pela obra monumental de Euclides da Cunha – Os Sertões. Ao ser beneficiada pela presença da Universidade Federal do Nordeste, com tudo de bom que implica para nossa juventude, com o desenvolvimento que traz para todos os municípios, com sua carga educacional, civilizatória e cultural, a região Nordeste da Bahia poderá agradecer ao Estado brasileiro.

Talvez minimamente o Estado consiga, com uma ação concreta de grande magnitude como essa, pedir desculpas ao povo, aos seus antepassados trespassados pelas balas de uma República que não conseguiu compreender o que ia pela cabeça de camponeses tão dispostos à luta, enlouquecidos de esperança numa sociedade igualitária, capazes de resistir até o último homem. O sertanejo é antes de tudo um forte, disse Euclides da Cunha. E por ser forte mantém os pés na estrada disposto, resoluto, sem pestanejar, a ir até o fim para conquistar a Universidade Federal do Nordeste da Bahia.

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