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O Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue, visto através de microscópio eletrônico na Fiocruz Pernambuco, no Recife | Foto: AP Photo/Felipe Dana

O Brasil passou de 1,6 milhão de casos (prováveis e confirmados) de dengue em 2024. Segundo dados do Painel de Arboviroses do Ministério da Saúde atualizados nesta sexta-feira (16), o país registrou 1.684.781 casos nas primeiras dez semanas deste ano, superando a taxa total de 2023, 1.658.816.

Este é o segundo maior número desde o início da série histórica, em 2000. O recorde de casos prováveis ocorreu em 2015, com 1.688.688.

No mesmo período do ano passado, em menos de 3 meses, o Brasil tinha 326.342 casos.

Além disso, até o momento, 513 mortes foram confirmadas desde janeiro e 903 seguem em investigação. Em 2023, foram 202 óbitos entre as semanas 01 e 10.

“O que é preocupante nesse número de casos é o impacto da dengue na saúde. A gente sabe que a dengue já é um problema de saúde pública, sem dúvida, mas quando a gente tem epidemias como essa, a gente sabe da sobrecarga que a doença causa no sistema de saúde, nos atendimentos”, diz Carla Kobayashi, infectologista do Hospital Sírio-Libanês.

Kobayashi explica ainda que o aumento da dengue este ano está diretamente relacionado às mudanças climáticas.

Com estações do ano mal definidas e períodos chuvosos intercalados com altas temperaturas, as condições climáticas propiciam um ambiente favorável para a proliferação do mosquito vetor e a replicação do vírus.

Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) publicado recentemente no portal Scientific Reports da Nature inclusive corrobora essa tese.

Nele, pesquisadores explicam que aumento na ocorrência de eventos climáticos extremos, como ondas de calor e secas cada vez mais comuns no nosso país, associado à urbanização incompleta e à degradação ambiental, está contribuindo para a expansão da dengue para o interior do Brasil.

Fora isso, a influência das mudanças climáticas é evidenciada pela propagação da doença para regiões anteriormente menos afetadas, como as regiões Sul e Centro-Oeste.

“A gente tem que montar estratégias para aumentar o atendimento da população, porque a dengue não é uma doença para ter uma alta taxa de letalidade. Só que para ela não ter essa alta taxa de mortalidade a gente precisa diagnosticar dengue, a gente precisa tratar dengue, identificar precocemente quando a doença está se tornando grave”, acrescenta.

O que devemos fazer

A dengue só acontece se houver a presença do mosquito Aedes aegypti. Essa é, praticamente, a única forma de transmissão da doença que causa repercussão na sociedade. Para evitar, então, não há muito segredo: precisamos acabar com os criadouros do mosquito. E o combate depende de todos, seja a sociedade em geral, governo e profissionais de saúde.

Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 75% dos criadouros do mosquito transmissor estão nos domicílios, como em vasos e pratos de plantas, garrafas retornáveis, pingadeira, recipientes de degelo em geladeiras, bebedouros em geral e materiais em depósitos de construção (sanitários estocados, canos e outros). Esses criadouros permitem a proliferação da fêmea do mosquito Aedes aegypti (transmissora da dengue).

“O controle é vetorial, precisamos combater o mosquito. A população precisa ser educada, entender que a dengue é uma doença grave e devemos controlar o criadouro. Já os gestores precisam disponibilizar larvicidas, fumacê, distribuição de inseticidas”, diz Kleber Luz.

O infectologista e consultor da OMS lembra que a dengue mata pessoas absolutamente saudáveis e de qualquer idade. Por isso, ao apresentar os primeiros sintomas, a pessoa deve procurar uma unidade de saúde para diagnóstico e tratamento adequados, visto que a infecção pode evoluir rápido e o óbito pode vir no terceiro ou quarto dia.

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