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Por Jornal Nacional

Imagem: Reprodução/TV Globo

A disparada dos preços de itens básicos tem obrigado milhões de brasileiros a fazer escolhas na hora de pagar contas.

É cada escolha difícil. Para ir ao supermercado, o corretor de imóveis Sérgio Alves atrasou a prestação do apartamento. “Às vezes a gente tem que ver o que é prioridade. Às vezes a prioridade é comer. Aí a conta vai um pouquinho para a frente.”

A auxiliar de limpeza Aparecida Pereira da Silva deixa de comer o que tem vontade para não deixar de pagar as contas. “A gente passa umas vontades, pensa: ‘Ah, mas está caro, se eu comprar vai faltar para uma outra coisa’. Aí a gente deixa para lá. Tem tudo de pouquinho no meu carrinho”, diz.

A aposentada Maria dos Prazeres Gonçalves, que só usa o carro quando vai pegar peso, sente que está cortando o que não podia. “Vagem, por exemplo, nunca mais comi. Tomate eu nunca mais pude comprar, nem dois tomates às vezes. Nós, que já somos idosos, precisamos de muita fruta, muitos legumes para sobreviver. Só que está impossível”, afirma a aposentada.

A economia tem um nome para isso: restrição orçamentária. 

Imagine uma família de São Paulo que vive com um salário mínimo (R$ 1.284). Para comprar uma cesta com itens essenciais de alimentação (R$ 803,99), gasta mais de 60% da renda (62,6%). Especialistas recomendam comprometer no máximo 30% do rendimento com aluguel. Uma missão quase impossível. Sobram 7% para todo o restante. Um botijão de gás, uma conta de luz e outra de água já ultrapassam os 100% do orçamento da família.

“Uma família de renda alta pode deixar de ir ao cinema, de jantar fora, de viajar, e ela equilibra o orçamento dela. Uma família de baixa renda não tem essa opção. Então, muitas vezes ela tem que deixar de consumir itens essenciais ou pagar uma conta de energia ou deixar de comprar um botijão de gás e cozinhar com o que ela tiver ali”, explica Guilherme Moreira, economista e coordenador do IPC-Fipe.

A inflação não é justa, ao contrário. Ela promove a desigualdade social porque é um fenômeno, como se diz, “com dois pesos e duas medidas”.

As pesquisas de preços por faixa de renda mostram que para as famílias mais ricas, com rendimento acima de oito salários mínimos, o peso de alimentação e habitação é de menos da metade do orçamento (46,2%). Para as mais pobres, que vivem com menos de três salários mínimos, o essencial compromete quase dois terços de tudo o que ganham (65,7%). Agora pensa: nos últimos 12 meses, o que mais subiu foi justamente o preço do básico.

A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas acompanha a variação de preços por faixa de renda na cidade de São Paulo. Até abril, no acumulado em 12 meses, a inflação para os mais pobres foi de 12,8%. Para os mais ricos, ficou um pouco abaixo de 12%. Para os dois grupos, o avanço dos preços dos alimentos foi muito maior que o índice geral.

O economista Alberto Ajzental, professor da FGV, explica que o saldo dessa conta que não fecha é a perpetuação da pobreza.

“A família precocemente tem que começar a trabalhar, e quando falo precoce são os filhos. Os filhos não conseguem completar o ciclo de educação e antecipadamente têm que ir para o mercado de trabalho, e não conseguem sair de um ciclo vicioso da pobreza”.

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