‘Ou eu penso no gás ou no alimento’: com alta do gás, famílias pobres cozinham em fogo a lenha
Por g1 BA e Mateus Massena
Com a alta de preço do gás de cozinha, famílias carentes passaram a ter mais um impedimento para garantir uma alimentação adequada, dentro dos parâmetros segurança alimentar. A situação se agravou ainda mais com a pandemia, quando muitos baianos perderam renda por causa da crise econômica gerada pela crise sanitária.
A queda da renda direcionou as pessoas mais pobres a fazerem uma escolha, no mínimo, cruel: comprar comida ou o gás para o preparo das refeições. A saída para conseguir comer foi cozinhar a lenha, como explica a dona de casa Rosane Pereira.
“Eu compro alimentos para eles [filhos], porque ou eu penso no gás, ou eu penso no alimento. E com o fogo de lenha eu tenho como cozinhar um alimento para eles comerem. E se eu comprar o gás e não tiver alimento para eles comerem?”, questionou ela.
Moradora do bairro de Areia Branca, em Lauro de Freitas, cidade da Região Metropolitana de Salvador, Rosane tem cinco filhos. O marido dela está desempregado, mas faz pequenos serviços para contribuir no sustento da família.
Rosane é beneficiária do Bolsa Família e recebe R$ 400 mensais. Com renda reduzida, ela e os filhos vão ao Centro de Abastecimento, todas terças e quintas-feiras, com um balde, para pegar alimentos descartados, além de pedaços de madeira, para montar fogão a lenha.
A casa dela fica a 400 metros de uma revendedora de gás, onde o preço botijão aumentou R$ 5 há um mês. Para quem compra na porta, o custo sai a R$ 105 e para levar em casa, chega a R$ 118.
Perto da casa de Rosane fica a comunidade Recanto da Vitória, também em Areia Branca, onde os moradores contam com a ajuda de uma estudante e ativista social. Camila Marques usa as redes sociais para levar ajuda às famílias que mais precisam.
“Eu faço vídeo, eu faço foto, eu divulgo no meu Instagram. E nisso, eu tenho amigos que formam uma rede e a gente vai conseguindo trazer um pouco mais de esperança aqui na comunidade”, conta ela.
Uma das famílias ajudadas por Camila é a da dona de casa Mainê Bastos, que vive com dois dos seis filhos, e o companheiro. Ela recebe R$ 600 mensais de pensão e mora, há dois anos, em uma casa de madeira e tapume. Para cozinhar refeições, também usa o fogão a lenha.
“O certo é almoçar meio-dia, mas como a gente não tem como comprar o gás, a gente tem que aprender a esperar. Chamar por Deus, porque é tudo no tempo de Deus. O que tiver a gente come, se não tiver a gente não come. ”, disse Mainê.
Mainê tem fogão em casa, mas mesmo que tivesse, não poderia usar gás, já que não tem dinheiro para comprar um botijão. A renda familiar não é suficiente para alimentar a todos.
“Já teve dias de eu dormir com fome. Às vezes eu compro R$ 4 de pão, para deixar para a manhã. Aí eu não tomo café. Eu digo a eles que não estou com fome e é isso. Criei todos os seis assim e estou criando os dois pequenos”.