Padre celebrou casamento pouco antes de atropelar suspeito de furto e fugir sem prestar socorro
Por g1 Bauru e Marília
Tatiane de Fátima e Alex Aparecido viveram no último sábado (7) o sonho do matrimônio na igreja. A cerimônia, que reuniu pouco mais de 100 pessoas, entre amigos e familiares, teve como celebrante o padre investigado por atropelar um homem que teria furtado uma igreja em Santa Cruz do Rio Pardo, no interior de São Paulo.
O casal, que desde a última terça-feira (10) comemora a lua de mel em Maceió (AL), viveu sentimentos contraditórios durante a cerimônia que marcou a união, após três anos e meio juntos. Os dois relatam que conheceram o padre Gustavo Trindade dos Santos, suspeito do atropelamento, no dia do casamento. Ele se mostrou muito feliz por celebrar o amor do casal.
“Eu cheguei à igreja por volta de 19h20 e vi também o padre chegando com o carro branco. Até então, não o conhecia, mas ele foi super atencioso, deu risada, brincou com a gente antes e durante a cerimônia. Falou para eu ficar calma, que era para eu respirar, que tudo ia dar certo. Ele estava super sossegado”, conta a noiva Tatiane.
A surpresa dela pelo fato do padre ser o principal suspeito do atropelamento, que foi registrado por câmeras de segurança, só aumenta ao relembrar que ainda estava na igreja quando ficou sabendo do caso, que aconteceu logo depois do término da cerimônia, por volta das 21h30.
“A maioria do pessoal já tinha saído para a festa. Eu e meu marido alugamos um carro antigo e ficamos com algumas pessoas fazendo umas fotos em frente à igreja. Havia ainda um pessoal recolhendo as flores. Neste momento, a gente viu um ‘corre corre’ de viatura do Samu. A polícia entrou na igreja e explicou que atropelaram um homem próximo dali”, conta Tatiane.
Durante a celebração na Igreja Matriz de São Sebastião, a avó de Tatiane se machucou com a decoração de vidro, o que deixou partes da igreja manchadas de sangue, levantando suspeita entre os policiais.
“A minha avó é uma senhora de idade. Ela bateu com a perna na decoração de vidro e acabou sangrando, ficou pingando sangue da perna dela na igreja. Quando a polícia entrou, achou que o sangue era da ocorrência que eles estavam atendendo. Os policiais vieram perguntar se tinha algo a ver. Mas a gente não estava sabendo de nada”, relembra.
Imagens de câmeras de seguranças mostraram que o padre, após a cerimônia, perseguiu o homem antes do atropelamento.
Segundo o boletim de ocorrência, Ângelo Marcos dos Santos Nogueira, de 40 anos, identificado como o homem atropelado, é suspeito de furtar a casa paroquial da Igreja São Sebastião arrombando uma das janelas. Ele fugiu do local levando três moletons e uma camiseta.
Os policiais militares foram chamados por testemunhas, que anotaram a placa do veículo, que pertence à diocese de Ourinhos (SP). Assim que as imagens do atropelamento foram divulgadas, a noiva logo reconheceu o automóvel.
“A gente ficou sabendo do atropelamento, só não imaginava que era o padre. Mas, na hora que todo mundo falou e aí vimos as imagens, logo reconheci o carro que ele havia chegado na igreja. Foi um choque”, pontua a noiva.
“Eu até tinha falado para o meu marido: ‘nossa, gostei muito desse padre’. Ele é novo, tem uma boa linguagem. Não demorou durante o matrimônio, mas foi uma cerimônia bem bonita”, completa Tatiane.
Três dias após o atropelamento e a celebração do casamento, o frei Gustavo Trindade dos Santos, de 37 anos, se apresentou no fórum de Santa Cruz do Rio Pardo, acompanhado por dois advogados, na quarta-feira (11).
Isso aconteceu após a Justiça ter negado, na última terça-feira (10), o pedido de prisão preventiva feito pela Polícia Civil contra o padre. O advogado César Augusto Moreira, que defende o frei Gustavo Trindade dos Santos disse que o padre agiu em legítima defesa. Para Tatiane e Alex, seja qual for a decisão judicial, o casamento não será esquecido tão cedo.
“Querendo ou não, isso vai acabar marcando a história do dia do meu casamento. Não tem jeito”, finaliza.