Covid-19: Mãe viaja mil km para vacinar filha de 16 anos com paralisia cerebral quadriplégica
Por GloboNews
Uma mãe viajou com a filha de 16 anos de São Paulo para Campo Grande (MS) para garantir a imunização contra Covid-19 da adolescente, que tem deficiência permanente. Foram quase 1.000 km percorridos em 16 horas dentro do carro.
Há mais de um ano sem poder realizar as terapias que reduzem suas dores, Sofia Crispim, de 16 anos, saiu de casa pela primeira vez desde o início da pandemia. A adolescente tem paralisia cerebral quadriplégica — quadro que a faz usar cadeira de rodas e ter comprometimento nos sistemas circulatório e respiratório.
“Viajar com ela com dor, pois está sem poder fazer as terapias, foi desgastante. Uma viagem cansativa e cheia de medo, porque ela estava há 16 meses dentro de casa e de repente ir para outro estado para tomar a vacina foi um risco que a gente decidiu correr”, conta a mãe da adolescente, Denise Crispim, que também é presidente do Instituto Abrace — ONG que apoia pais de crianças e adolescentes que precisam de cuidado intensivo.
No dia 18 de junho, a Secretaria Estadual da Saúde do Mato Grosso do Sul publicou uma resolução autorizando os municípios a vacinarem contra a covid-19 adolescentes a partir dos 12 anos com comorbidades e deficiência permanente. Neste domingo (11), o governo de São Paulo anunciou vacinação de adolescentes com comorbidades a partir de 23 de agosto.
A única vacina que o grupo pode tomar é a Pfizer, que obteve autorização da Anvisa para ser utilizada neste grupo prioritário. Apesar da autorização, os adolescentes ainda não foram incluídos no Plano Nacional de Imunização e, atualmente, só o estado do Mato Grosso do Sul deu início a essa vacinação.
A prefeitura de Campo Grande, começou a vacinar essa faixa etária no dia 1º de julho. Até a última sexta (9), tinham sido vacinados 1.605 adolescentes com comorbidades, de um total de 2.300 cadastrados.
A cidade não exige comprovante de residência no momento da vacinação, e a estimativa da Secretaria Municipal da Saúde é que 30% dos vacinados sejam de outros municípios.
A mãe de Sofia fez o cadastro da menina ainda em São Paulo e depois iniciaram a viagem. Ao chegar lá, foram informadas que a vacinação para o grupo já tinha sido encerrada. Mas, no dia seguinte da chegada das duas no estado, um posto de saúde abriu uma exceção para elas pois haviam doses da Pfizer disponíveis. Assim, a adolescente foi imunizada.
“Eu fiquei feliz, mas é um sentimento estranho”, diz Sofia. “Eu vou ter que voltar muito aos poucos para a terapia e as aulas presenciais. É como se eu estivesse renascendo.”
A Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande informou que a vacinação desse grupo será contínua, ocorrendo sempre que houver doses de Pfizer disponíveis.
O Instituto Abrace, ONG da qual Denise é presidente, iniciou em maio a campanha Vacina Já, pedindo que o grupo dos adolescentes com comorbidades e deficiência seja incluído no PNI.
A campanha contou com apoio de pais de diversos estados do País que têm filhos que necessitam fazer tratamento contínuo — como crianças que fazem hemodiálise, com câncer, com deficiência ou outras comorbidades. Muitos desses menores continuaram frequentando hospitais durante a pandemia ou estão sem realizar tratamentos por conta dela.
“Quando a Sofia foi vacinada, eu fiquei até um pouco receosa de comemorar, porque eu estava nessa campanha, tem um monte de mães esperando essa notícia, e de repente eu ir para Campo Grande podia parecer que eu estava desistindo. Mas eu não estava desistindo. Pelo contrário, eu estava desesperada”, desabafa Denise.
Na último quinta (8), a Câmara aprovou o Projeto de Lei 12/21 para determinar a inclusão, como grupo prioritário no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, de gestantes, puérperas e lactantes, bem como de crianças e adolescentes com deficiência permanente ou com comorbidades, além daquelas privadas de liberdade. O projeto irá agora para sanção presidencial.
Em 31 de março, a Pfizer e a BioNTech, que desenvolveram a vacina juntas, anunciaram que ela teve 100% de eficácia em adolescentes com idades entre 12 e 15 anos.
A vacina já é autorizada para adolescentes de 12 anos ou mais nos Estados Unidos, no Canadá, no Reino Unido e na Europa.