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Santaluz: Advogada responde dúvidas sobre pensão alimentícia em entrevista
BN: O QUE É PENSÃO ALIMENTÍCIA?
Dra. Isabella: Corresponde á quantia previamente fixada pelo juiz e que deve ser atendida pelo responsável, que é o alimentante. O alimentando, que é quem recebe os alimentos, não pode renunciar ao direito de pedir alimentos, sendo que, uma vez levado ao conhecimento do judiciário por meio de uma ação de alimentos a necessidade dos mesmos, não pode o alimentando requerer a renuncia a este direito.
BN: QUEM TEM OBRIGAÇÃO DE PRESTAR OS ALIMENTOS?
Dra. Isabella: É importante deixar bem claro que a obrigação de alimentar é fundada no parentesco, sendo devida entre parentes, cônjuges e companheiros. É mais do que claro que os pais tem obrigação de prestar alimentos aos seus filhos, menores ou não. Porém, admite-se também a inversão deste tipo de obrigação onde os filhos é quem devem prestar os alimentos aos seus pais, desde que haja a comprovação da necessidade por parte destes bem como a condição favorável por parte daqueles. Os irmãos também possuem a obrigação de alimentar um ao outro. Se o parente que presta alimentos, não suportar totalmente a prestação, poderá dividir com outros o encargo, pois, a obrigação de alimentar é divisível, devendo cada parente contribuir quando necessário. Por exemplo: Se um pai tem três filhos e porventura vir a necessitar de alimentos, terá de pedir aos três, pois, se o fizer a apenas um, receberá somente 1/3 do total do pedido. Desta forma, para lograr êxito em sua pretensão, o pai terá de chamar a juízo os demais filhos para completarem, na medida de suas posses, os alimentos. Assim, tanto pais, filhos, irmãos, avós, cônjuges, companheiros podem pedir alimentos uns aos outros, em virtude do grau de necessidade de quem os pleiteia e da capacidade econômica de quem necessita.
BN: A MULHER PODE PEDIR PENSÃO ANTES DE O FILHO NASCER?
Dra. Isabella: Sim, é possível pedir pensão antes do nascimento com vida de uma criança. Esses alimentos são chamados de alimentos gravídicos e foram inseridos no nosso ordenamento jurídico no ano de 2008. Eles constituem os valores suficientes para cobrir as despesas adicionais do período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto, inclusive as referentes a alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juiz considere pertinentes.
Os alimentos gravídicos, após o nascimento com vida, são convertidos em pensão alimentícia em benefício do menor até uma das partes envolvidas pleitear sua revisão ou exoneração. A exoneração ocorrerá se o pai provar mediante prova pericial (DNA) que o menor não é seu filho.
BN: QUANTO TEMPO, APÓS O ADVOGADO DÁ ENTRADA AO PROCESSO DE PENSÃO ALIMENTÍCIA, A MÃE COMEÇA A RECEBER PENSÃO?
Dra. Isabella: Após ocorrerem todos os trâmites legais de um processo, antes de dar uma sentença, o juiz poderá fixar os alimentos provisionais de acordo com a necessidade de quem pede os alimentos e também de acordo com a possibilidade de quem os presta, levando, ainda, em consideração a proporcionalidade que deverá também ser levada em consideração de acordo com casa caso concreto. A lei prevê que, após iniciado um processo de alimentos, o réu da ação seja citado e tenha um prazo de 5 dias para oferecer contestação. Na própria audiência, o juiz, se convencido de que o réu não paga os alimentos, deverá fixar uma porcentagem sobre o ganho econômico do réu.
BN: O PAI JÁ FOI OBRIGADO PELO JUIZ, MAS NÃO PAGA. E AGORA?
Dra. Isabella: Neste caso, o pai será preso. A Constituição Federal prevê a prisão civil pelo não pagamento de dívidas de alimentos. É importante ressaltar que é o único caso dentro do nosso ordenamento jurídico em que é legalmente permitida a prisão civil do alimentante pela inadimplência da pensão alimentícia.
BN: ELE FOI PRESO, E A FAMÍLIA CAIU EM CIMA DA MÃE PARA ELA PERDOAR A DÍVIDA. O QUE ELA DEVE FAZER?
Dra. Isabella: A questão do direito a alimentos é bastante emblemática. Não se trata de perdoar a dívida porque nesse caso não existe perdão. È importante ressaltar que o menor, por exemplo, pode viver uma vida inteira sem cobrar alimentos dos seus responsáveis, porém, a partir do momento em que há o ingresso na vida judicial por meio de uma ação, não há quem se falar em renunciar e simplesmente desistir da ação porque a ação de alimentos é imprescritível e irrenunciável. É imprescritível porque não prescreve nunca; o menor, devidamente representado, poderá entrar com a ação a qualquer momento; e é irrenunciável porque não se pode renunciar ao direito de obter alimentos.
BN: ELE A AMEAÇOU PARA RETIRAR O PROCESSO. E AGORA?
Dra. Isabella: A partir do momento em que há ameaça, o caso fica mais grave, pois estaremos saindo da esfera cível e entrando na esfera penal. Nesta situação, deve ser aplicada a lei Maria da penha, pois a própria lei tipifica violência psicológica contra a mulher como crime.
BN: E NO CASO DE ELE ESTAR GANHANDO MAIS. POSSO PEDIR AUMENTO DA PENSÃO?
Dra. Isabella: Sim, a responsável pelo menor pode entrar com uma ação revisional de alimentos para rever os valores anteriormente fixados em acordo ou sentença judicial.
BN: QUANDO COMPLETADA A MAIOR IDADE, A PENSÃO ALIMENTÍCIA É EXONERADA (ENCERRADA) AUTOMATICAMENTE?
Dra. Isabella: Em relação aos filhos, o fato de terem alcançado a maioridade não lhes condenam a perda do direito, se provado que mesmo maiores, não possuem recursos mínimos que lhes garantam a subsistência, podendo neste caso, intentar alimentos. As decisões tem admitido que os pais devam continuar a fornecer alimentos aos filhos maiores que estejam frequentando curso de nível superior até o término do curso ou até estes completarem 24 anos.
BN: QUANDO HÁ PERDA DO DIREITO A ALIMENTOS?
Dra. Isabella: Este direito é extinto pela morte do alimentante ou do alimentando ou, então, quando cessa a necessidade do alimentando, principalmente pela mudança de circunstancias econômica. A lei também prevê a obrigação do dever de alimentar na hipótese de o alimentando contrair casamento, união estável ou relação concubinária.
BN: DE QUE FORMA OS ALIMENTOS PODEM SER PRESTADOS?
Dra. Isabella: A obrigação de alimentar pode ser prestada na forma de alimentos in natura ou na forma de pensão alimentícia. Os alimentos in natura são a forma em que o alimentante presta os alimentos em espécie, ou seja, fornecendo ao alimentado, juridicamente falando, o bem da vida indispensável á sua manutenção, podendo ser: moradia, mediante o pagamento do aluguel; assistência médica, mediante o pagamento de um plano de saúde; educação escolar, mediante o pagamento de despesas escolares, etc. A pensão alimentícia, entretanto, é o pagamento de um valor pré-determinado em acordo ou fixado pelo juiz. É quando o alimentante dá diretamente o dinheiro ao alimentado, podendo ser uma das formas, o deposito em conta.
BN: A LEI PERMITE A COBRANÇA DE PRESTAÇÕES PASSADAS?
Dra. Isabella: A lei não permite a cobrança de prestações passadas, apenas as atuais e futuras, salvo as prestações passadas devidas por sentença judicial ou por acordo homologado que não tenham sido adimplidas. No caso de prestações passadas antes do ajuizamento da ação, o requerente tem de provar em juízo que a sua mantença se deu através de empréstimos que garantiram sua sobrevivência até aquele momento. As prestações passadas, assim, podem ser reclamadas, e no prazo máximo de dois anos, sob pena da prescrição.
BN: ELE ESTÁ DESEMPREGADO. MESMO ASSIM A MÃE PODE PEDIR PENSÃO?
Dra. Isabella: Poder ela pode. Mas havendo impossibilidade de o pai prestar os alimentos por estar desempregado, cabe a ele provar em juízo que não possui condições mínimas de arcar com as despesas referentes aos alimentos que o filho precisa.
Quando os pais não conseguem arcar com a pensão imposta pela Justiça, entram as figuras dos avós, ou seja, os avós serão acionados para cumprir a obrigação de prestar alimentos, seja substituindo ou complementando a pensão paga pelo pai. Neste caso, a responsável legal pelo menor deve entrar com uma ação requerendo que os avós paguem a pensão.
Nesses casos, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) vem decidindo que não basta que o pai ou a mãe deixem de prestar alimentos. É necessário que se comprove a impossibilidade de prestar os alimentos, uma vez que a obrigação dos avós é subsidiária e não solidária.
Inseticida feito com extrato de sisal mata a larva do mosquito da dengue
Um estudo realizado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em parceria com a Embrapa, obteve um inseticida natural à base de extrato (suco) retirado das folhas do sisal (Agave sisalana) que se mostrou eficaz contra as larvas do Aedes aegypti, mosquito transmissor de doenças como a dengue, zika e chikungunya. O produto ataca o intestino das larvas, levando-as à morte em menos de 24 horas. Segundo a vice-diretora do Centro de Biotecnologia da UFPB, Fabíola Nunes, coordenadora da pesquisa, os ensaios biológicos constataram a morte de larvas a partir da dosagem de quatro mililitros de suco de sisal para cada 100 litros de água. “Testamos em larvas e obtivemos um resultado promissor, com 100% de mortalidade na fase larval, que é a fase aquática”, relata. “Fizemos também testes nas outras fases do inseto (ovo, pupa e mosquito adulto), mas o produto não tem efeito. Acreditamos que isso ocorre porque na fase de larva o inseto se alimenta da solução e provavelmente morre por ingestão do produto, pois verificamos que havia necrose nas células intestinais das larvas”, acrescenta.
Fabíola começou a pesquisa durante o doutorado na UFPB em 2012. “Eu estava testando outras substâncias para as larvas do Aedes aegypti quando a Embrapa solicitou nossa parceria para que o suco do sisal fosse testado em carrapatos e lagartas. Testamos em larvas e obtivemos um resultado promissor”, conta.
O suco do sisal possui vários compostos orgânicos, com destaque para as saponinas, que podem causar toxidade, irritação e até morte de carrapatos, lagartas de determinadas espécies e outros insetos.
Conforme a pesquisadora, os testes mostraram que, se diluído nas proporções recomendadas, a ingestão ou o contato do suco com a pele não causa nenhum tipo de dano para animais como camundongos e ovelhas. “Nos testes iniciais, já verificamos que não é tóxico para animais de laboratório. Precisamos fazer mais testes para determinar a toxicidade para outros animais,” informa.
Os próximos passos serão realizar os estudos para que o produto seja disponibilizado para as pessoas de forma segura e com instruções bem detalhadas. “A pesquisa ainda precisa responder a algumas questões como: por quanto tempo o produto mantém o efeito; qual é o seu mecanismo de ação; e qual a melhor maneira de disponibilizar o produto no mercado”, afirma Fabíola.
Umas das possibilidades de aplicação é utilizar o extrato de sisal em pó para ser diluído em recipientes de água parada. Ele poderia ser utilizado em alternância com outros larvicidas disponibilizados pelo Ministério da Saúde. A pesquisadora explica que a alternância de produtos de diferentes mecanismos de ação é uma estratégia adotada para que o inseto não adquira resistência ao produto.
Eficácia contra lagartas e carrapatos
As propriedades inseticidas do suco de sisal já eram conhecidas no meio científico, mas havia uma grande limitação prática: o produto precisava ser aplicado imediatamente após a coleta porque fermentava em poucas horas. Em 2010, a Embrapa Algodão iniciou o estudo da viabilidade econômica do uso do suco do sisal para a produção de bioinseticidas.
“Um dos resultados mais importantes da pesquisa foi conseguir a estabilização do suco, evitando que ele entrasse em processo de fermentação. Sem nenhum tratamento, o suco deteriora cerca de cinco horas após a extração e nós conseguimos mantê-lo estável por até 30 dias”, explica o pesquisador da Embrapa Algodão, Everaldo Medeiros.
Outro resultado da pesquisa foi a obtenção de um extrato concentrado em pó do suco do sisal, que permite conservá-lo por longo período sem perder suas propriedades. O extrato em pó demonstrou eficácia contra lagartas do algodoeiro e da soja e carrapatos bovinos.
O produto em pó é obtido após a retirada de toda a água do suco pelo processo de concentração chamado liofilização, de forma similar ao que ocorre com leite e café, que consiste na desidratação de substâncias em baixas temperaturas transformando-o em material sólido de fácil conservação.
“A vantagem do extrato em pó do suco de sisal é que ele pode ser reconstituído por diluição em água, o que facilita a aplicação, e ainda conserva as propriedades do material original”, afirma Medeiros.
A pesquisa inicial do suco de sisal com propósito de bioinseticida foi desenvolvida em parceria com o Sindicato das Indústrias de Fibras Vegetais do Estado da Bahia (Sindifibras), Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia (SECTI) e Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
“O material utilizado pela pesquisa na UFPB foi o produto liofilizado e o suco congelado estabilizado preparados pela Embrapa durante as fases de teste contra as larvas do mosquito Aedes Aegypti”, diz Medeiros.
O pesquisador enfatiza que, por enquanto, o produto ainda não está disponível para a população por ser objeto de estudo e ainda necessitar de aprovação pelos órgãos regulamentadores no país. “Tanto a universidade como a Embrapa dispõem do material apenas para fins de pesquisa em pequenas quantidades para os testes que são realizados. As pessoas devem estar atentas para o fato de que a manipulação do suco sem o processo técnico correto poderá não trazer efeitos de mortalidade das larvas,” alerta o especialista.
Aproveitamento dos resíduos do sisal
O sisal é cultivado principalmente na Bahia e na Paraíba e tem uma gama de aplicações que vai desde a confecção de fios, cordas, tapetes, sacos, vassouras, artesanatos, acessórios e o uso como componente automobilístico.
O principal produto do sisal é a fibra extraída das folhas, mas grande parte da planta ainda é desperdiçada. A fibra equivale a somente 5% do peso das folhas e o restante da produção tem pouco uso.
Em torno de 80% da folha do sisal é composta por suco que pode ser extraído para combater o mosquito e 15% por mucilagem, que normalmente são despejados no campo.
“Por um lado, a pesquisa visa mostrar que parte desse suco é viável economicamente como inseticida e, por outro lado, desenvolvemos equipamentos que tornaram possível o aproveitamento dos resíduos sólidos como mucilagem para alimentação animal”, informa o pesquisador da Embrapa Algodão, Odilon Reny Ribeiro.
Um desses equipamentos é a peneira rotativa que permite a separação das fibras longas (bucha) da mucilagem para alimentação de ovinos e bovinos na região semiárida. A tecnologia evita a morte dos animais ruminantes por timpanismo, uma doença provocada pela ingestão de materiais que não conseguem ser digeridos pelos animais, como a bucha do sisal.
Por ser rico em açúcares, nutrientes e outros compostos, o sisal também vem despertando o interesse de pesquisas para obtenção de substâncias de maior valor agregado como defensivos naturais, edulcorantes (adoçantes naturais), nanocelulose e celulose bacteriana (um tipo especial de celulose com várias aplicações em pesquisas biomédicas, desde a pele artificial para queimados até a engenharia de órgãos).
Redação de Lairssa Freisleben, publicada pela Folha de S.Paulo – Enem 2014
Leia abaixo a redação de Lairssa Freisleben, publicada pela Folha de S.Paulo.
Publicidade Infantil: perigoso artifício
Uma criança imitando os sons emitidos por porcos já foi atitude considerada como falta de educação. No entanto, após a popularização do programa infantil “Peppa Pig”, essa passou a ser uma cena comum no Brasil. O desenho animado sobre uma família de porcos falantes não apenas mudou o comportamento dos pequenos como também aumentou o lucro de uma série de marcas que se utilizaram do encantamento infantil para impulsionar a venda de produtos relacionados ao tema. Peppa é apenas mais um exemplo do poder que a publicidade exerce sobre as crianças.
Os nazistas já conheciam os efeitos de uma boa publicidade: são inúmeros os casos de pais delatados pelos próprios filhos –o que mostra a facilidade com que as crianças são influenciadas. Essa vulnerabilidade é maior até os sete anos de idade, quando a personalidade ainda não está formada. Muitas redes de lanchonetes, por exemplo, valem-se disso para persuadir seus jovens clientes: seus produtos vêm acompanhados por brindes e brinquedos. Assim, muitas vezes a criança acaba se alimentando de maneira inadequada na ânsia de ganhar um brinquedo.
A publicidade interfere no julgamento das crianças. No entanto, censurar todas as propagandas não é a solução. É preciso, sim, que haja uma regulamentação para evitar a apelação abusiva –tarefa destinada aos órgãos responsáveis. No caso da alimentação, a questão é especialmente grave, uma vez que pesquisas mostram que os hábitos alimentares mantidos até os dez anos de idade são cruciais para definir o estilo de vida que o indivíduo terá quando adulto. Uma boa solução, nesse caso, seria criar propagandas enaltecendo o consumo de frutas, verduras e legumes. Os próprios programas infantis poderiam contribuir nesse sentido, apresentando personagens com hábitos saudáveis. Assim, os pequenos iriam tentar imitar os bons comportamentos.
Contudo, nenhum controle publicitário ou bom exemplo sob a forma de um desenho animado é suficiente sem a participação ativa da família. É essencial ensinar as crianças a diferenciar bons produtos de meros golpes publicitários. Portanto, em se tratando de propaganda infantil, assim como em tantos outros casos, a educação vinda de casa é a melhor solução.